17 e 18 dias presos dentro de uma caverna escura, úmida, com
pouco ar, sem comida e água potável. Foi o que aconteceu com os 12 meninos de
11 à 16 anos de idade e seu
professor/treinador de futebol, ‘ex-monge’ budista na Tailândia.
Através da meditação budista e/ou taoista (neste caso em
específico, foi budista), os meninos tailandeses e seu treinador, Ekkapol, que viveu em
torno de 10 anos num mosteiro budista e ensinou os meninos a meditarem, puderam sobreviver às condições
precárias que se encontravam.
Mas como foi possível sobreviverem? Ocidentais que vivem
euforicamente, sem técnicas ou práticas meditativas e/ou respiratórias,
conseguiriam sobreviver ao mesmo drama?
Tanto na meditação (no nosso caso, taoista) como na prática
das ‘artes internas’ (Chi Kung, Tai Chi e Wing Tjun interno), o cultivo ou
trabalho de energia (chamada ‘energia interna’, ‘energia vital’, ‘energia
cósmica’ ou ‘Chi’), através das práticas citadas acima (meditação e artes
internas), aumenta a possibilidade da vida resistir.
Nestas práticas trabalhamos a concentração e fluxo de energia
pelo corpo, o que fortalece e/ou equilibra a ‘mente, o corpo e o espírito’, que
passam a ser concebidos como uma unidade. Nisso, a partir de técnicas de ‘respiração
natural’ e ‘mergulho no vazio’ (que é a pratica da ‘calmaria’ - tanto que, uma
das formas taoistas de meditação se chama ‘sentar na calma’), a energia é concentrada,
controlada, equilibrada, e assim, permanece por mais tempo no corpo, junto a
respiração que oxigena os órgãos internos e diminui a interferência de
bactérias, fungos ou vírus no organismo, agindo na imunidade. Isso, faz com que
a necessidade de alimento (ou da energia dos alimentos), por um tempo limitado,
é claro, seja menor, assim como, se consiga respirar melhor, com mais leveza e
por mais tempo, usando menos ar. Diminui-se, consideravelmente assim, a
euforia, o estresse, as irritações e pensamentos rígidos. Neste sentido, a
calma e o relaxamento interno e externo, são fundamentais para uma melhor
vivência (ou sobrevivência). Para explicar bem isso, é preciso de mais tempo/espaço,
por isso, estou tentando ser breve e direto (maiores informações sobre isso, encontramos
em algumas publicações, como é o caso do livro ‘O Tao
da Respiração Natural’, de Dennis Lewis).
É fato que, não fosse este conhecimento milenar, esta prática
meditativa, técnica e sensível, seria mais difícil dos meninos terem
sobrevivido naquelas condições (no mínimo, isso foi importante para o bem estar físico, energético, psicológico-mental). Isso demonstra, o quão, certas práticas de vida,
como esta, são importantes para uma adaptação ou adequação humana (mental,
corporal e espiritual-energética) ao meio, pois, trata-se aqui, principalmente
disso, ou seja, da relação dos indivíduos com o meio natural e sociocultural
(em que eles estavam inseridos naquela situação). Natureza aliada a cultura, ao
conhecimento humano, desenvolvido, justamente, em certa harmonia com a natureza
ou com as naturezas (interna e externa).
Por fim, o que tinha muito para ter um final triste, acabou
bem para os meninos e seu ‘mestre’. Não teve o mesmo desfecho o caso do
mergulhador Saman Kunan, que no trabalho
digníssimo e humano de levar oxigênio (em tubo) e suprimento aos meninos,
acabou, infelizmente, morrendo na ‘garganta da caverna’.
Que este caso nos faça refletir sobre nossas ‘escolhas’,
sobre nossas condições existenciais, sobre nossas práticas cotidianas. De minha
parte, como estudante/praticante e professor, agradeço, em nome dos meus
alunos/as, irmãos/as Kung Fu da AFWK, aos antigos e contemporâneos mestres que
desenvolveram estas ‘artes’, estes conhecimentos, estas práticas, buscadas na
natureza e na própria vida.
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