sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Energia interna (a partir do fluxo de ‘Chi’) e Força física material (muscular corporal): diferença na realidade prática

Basicamente existem duas formas de se utilizar o corpo em uma ação física, dentro do tempo e espaço. Uma delas é o uso da força física material, dado pela ação do corpo a partir de sua força e resistência muscular e mecânica, outra é o uso da ‘energia interna’ (da natureza – lembrando que somos parte dela) que passa pelo corpo, a partir da concentração e fluxo do que na China é chamado de energia ‘Chi’, o ‘sopro vital’ (energia cósmica vital) no organismo, energia esta que mantém animados os corpos, fornecendo vitalidade ou energia ao que é vivo. O uso da força física geralmente é bem mais comum, pelo menos na maioria dos casos (leia-se trabalho, esportes e mesmo nos afazeres domésticos). É a força motora/muscular usada em lutas, brigas ou atos de violência física, assim como em ações ou trabalhos que exijam esforço físico. Já o uso da chamada energia interna, gerada pelo fluxo de ‘Chi’ (que também significa ‘ar’: note-se que o ar é elemento essencial da vida), na maioria das vezes é pouco notado, concebido ou assimilado, e portanto, não usado (pelo menos como poderia ser). Ou seja, a energia interna é mantenedora e potencializadora de vida, portanto, também de movimentos e suas forças, porém, pouco ou nada percebida, desenvolvida e portanto, utilizada por aqueles que precisam usar o corpo como um instrumento de defesa da vida ou dos órgãos internos. Um exemplo disso são as lutas ou esportes onde o corpo é usado ‘brutalmente’ pelo condicionamento físico, em que a força muscular e motora atua, em grande parte dos casos, decisivamente.

A partir desta breve discussão introdutória e desta ‘diferença’ entre ‘forças’ e seus usos (pois ‘energia’ neste caso, também é um tipo de ‘força’), convido a pensarmos, num primeiro momento, mais ‘matematicamente’ ou formalmente sobre estas duas formas ou modos de uso do corpo e suas ‘forças’. Pensemos então numa situação onde, de um lado, está um corpo que pesa 130 Kg (entre massa corporal e ossos), sendo parte desta massa dada pelo desenvolvimento muscular (além da estrutura física, ossos e gordura). Este corpo desfere um golpe, um soco que vem com muita força, dada pela soma entre peso, velocidade e massa (volume). Certamente dentro de dada técnica que permita um bom golpe, este será muito contundente e forte, dado a soma dos elementos que compõem o atrito ou a força frente ao alvo (ou seja, o outro corpo). De uma forma geral, é assim que a força física atua, neste sentido. Do outro lado temos um corpo menor, que pesa em torno de 65 Kg, com os mesmos elementos físicos do primeiro corpo citado, só que, com uma massa corporal bem menor. Certamente, se o golpe bem desferido do primeiro corpo atingir o segundo, este não terá chance alguma de resistir, pois, fisicamente e materialmente estes corpos são incompatíveis, dada a grande diferença entre suas estruturas. No caso, não há como o corpo menor não ser abalado pela força externa do maior. E é aí que entra o trabalho e bom uso da chamada ‘energia interna’. Se o primeiro corpo é muito mais forte e foi eficiente na sua investida, o segundo corpo sofreu o impacto e foi desmoronado pelo primeiro pois, só contava, neste caso, com sua própria estrutura física e/ou material. Muito mais leve e ‘fraco’ estruturalmente falando, não teve chances de resistir. Mesmo usando certa técnica de defesa pessoal, como um bloqueio com algum membro, este membro foi arrastado com o forte impacto, chegando até o corpo, com menos impacto é claro, mas não o evitando, e não evitando também sua derrocada. Dois corpos fortes, sadios, bem estruturados, feitos da mesma matéria, porém com pesos muito diferentes, num atrito direto, vence o maior ou mais pesado, devido a certa lei da física que trabalha com a soma dos elementos na ação. Então, a forma ‘lógica’ do menor e portanto mais frágil corpo não sofrer sua destruição é também não atuar em pé de igualdade com o corpo maior, pois, de fato, não existe, neste caso, esta igualdade físico-estrutural. Sendo assim, o corpo menor não pode resistir com as mesmas condições (pois nem as possui) do corpo maior.  Portanto, deve ele, utilizar-se de outro fator que defenda sua integridade. E este fator não é simplesmente a força física-muscular, mas sim, sua habilidade, no que diz respeito a flexibilidade do corpo. Flexibilidade esta dada pelo relaxamento físico, tanto externo quanto interno. E esta habilidade de ‘relaxamento’ e ‘flexibilidade’ (no caso, o bom uso do corpo, com consciência dele próprio e do lugar que ele ocupa no espaço), é adquirida através de técnicas, estudos ou práticas que ‘incorporam’ o uso da energia interna (‘Chi’). Eis que assim o corpo menor tem uma ‘arma’ que pode assegurá-lo de não sofrer tal investida do corpo maior. Ou seja, o revide não se dá por um simples ‘bloqueio’ dito defensivo, mas sim por um ‘desvio’ do golpe e da força vinda do corpo maior. Em nosso ‘sistema’ de W.T. chamamos este ‘desvio’ de ‘deixar passar’ ou ‘deixar ir’, a partir da habilidade adquirida pelo treino ou estudo técnico junto ao uso da energia ‘chi’ (relaxamento ou derretimento interno e externo) já citada anteriormente. Sendo esta a forma de lidar ou defender-se desta situação pensada por nós para perceber a diferença entre uma coisa e outra, sendo que, não é o ‘condicionamento físico muscular’ do corpo menor que, neste caso, vai fazer a diferença.

E sendo assim, vos falo não só a partir de estudos teóricos ou uma crença, mas também pela experiência própria (sendo que, além de praticarmos nossas técnicas a partir de situações como estas, já tive a experiência onde a defesa do meu corpo - terreno ou território - se deu justamente por certa habilidade ou conhecimento de usar a ‘energia interna’). Por isso enfatizo, estudo e trabalho com meus irmãos e/ou alunos, a busca, concentração e uso desta energia que passa por todos os corpos vivos, porém, em que nem todos os ‘corpos inteligentes’, usam. Muitos deles, nem sequer acreditam que esta energia exista, onde resumem tudo e apostam todas as suas fichas na força físico-muscular e seu condicionamento, ficando assim reféns de um limite que a própria condição físico-existencial lhes impõem, ou de uma sorte quem nem sempre os acompanha. Porém e contudo, o bom uso desta ‘energia interna’ também vai depender da prática e/ou estudo técnico ligados ao cultivo desta sabedoria, com suas estratégias, conhecimentos e habilidades, pois não falamos aqui em magia, crença ou mito, mas numa realidade nem sempre aprendida, percebida, concebida ou posta em prática. Mais que crer ou não, é preciso adquirir, incorporar ou saber. Assim o ‘sentido’ deste conhecimento passa a existir na prática cotidiana e pelo corpo, independente da sua racionalização ou crença, pois, vai muito além disso.




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