Sincretismo: “síntese,
razoavelmente equilibrada, de elementos originários de diferentes visões de
mundo ou de doutrinas filosóficas ou religiosas distintas, com reinterpretação
de seus elementos.”
Síntese: “método, processo ou operação que consiste em reunir elementos
diferentes, concretos ou abstratos, e fundi-los num todo coerente.”
Aplicado ao Wing Tjun (Wing Chun e Weng Chun
Kuen), o sincretismo é uma síntese do que seja este sistema, esta arte, este
conhecimento. Desenvolvido(s) no período imperial chinês (dinastia Qing, dos
manchus – último governo da fase imperial chinesa), a partir de outros conhecimentos,
estilos ou sistemas de Kung Fu (sob tudo Garça Branca e Serpente), por
estudiosos e/ou mestres, com o intuito de se auto-defender da repressão do
exército manchu que assolava naquele período o sul da China, o Wing Tjun é
fruto de um sincretismo filosófico e prático. Ou seja, surge da fusão entre
estilos ou sistemas diferentes (mas que se relacionam) de Kung Fu. Estilos
externos e internos. Os estudiosos que desenvolveram o Wing Chun e Weng Chun
Kuen (artes/conhecimentos irmãos) eram praticantes ou mestres de outros estilos
(entre eles figuram a Garça Branca e a Serpente). Também eram praticantes de
Chi Kung e/ou Tai Chi Chuan (independente se levavam, na época, estes nomes ou
não, pois, as artes internas são antigas, existem muito antes do Wing/Weng Chun),
o que faz com que o Wing Tjun também seja uma arte interna (além de externa) em
sua essência. Além dos estilos ditos ‘marciais’ que o compõem, também temos o
aspecto filosófico.
Kung Fu como cultura viva:
"Um homem nunca se banha duas vezes em um rio, pois na segunda vez nem ele é o mesmo homem, nem o rio é o mesmo rio." (Heráclito de Éfeso)
Segundo o filósofo grego Heráclito, "nada é permanente, exceto a mudança", ou seja, tudo está em transformação, tanto a natureza quanto o ser humano. Em suma, tuto flui, tudo muda. Por isso, quando falamos em conhecimento (em um conhecimento, amplo, profundo e diverso, como o Kung Fu, por exemplo), falamos em 'cultura', e quando falamos em cultura, falamos em soma de conhecimentos, estes, que abrangem certos saberes, teorias, certas práticas. Nisso, a cultura é resultado das respostas que os diversos grupos humanos produziram (e produzem) ao longo do tempo, para melhor satisfazer suas necessidades, o que resultou em um conjunto de conhecimentos teóricos e práticos, um tipo de sistema simbólico que se aprende e se transmite aos outros como legado histórico, permitindo interpretar e integrar a realidade, dando assim, sentido à vida humana. Nesse processo, o indivíduo não só aprende a cultura dos seus antepassados, mas também cria novos aspectos que a renovam. Ou seja, um estilo, sistema ou 'modo' de Kung Fu, assim como toda cultura, se movimenta, pulsa, é vivo, portanto, está sempre mudando, nem que seja nos detalhes quase invisíveis, conforme a passagem do tempo e as necessidades que esta mudança suscita. Eis que, é neste movimento de transformação, que tal sincretismo acontece.
Kung Fu como cultura viva:
"Um homem nunca se banha duas vezes em um rio, pois na segunda vez nem ele é o mesmo homem, nem o rio é o mesmo rio." (Heráclito de Éfeso)
Segundo o filósofo grego Heráclito, "nada é permanente, exceto a mudança", ou seja, tudo está em transformação, tanto a natureza quanto o ser humano. Em suma, tuto flui, tudo muda. Por isso, quando falamos em conhecimento (em um conhecimento, amplo, profundo e diverso, como o Kung Fu, por exemplo), falamos em 'cultura', e quando falamos em cultura, falamos em soma de conhecimentos, estes, que abrangem certos saberes, teorias, certas práticas. Nisso, a cultura é resultado das respostas que os diversos grupos humanos produziram (e produzem) ao longo do tempo, para melhor satisfazer suas necessidades, o que resultou em um conjunto de conhecimentos teóricos e práticos, um tipo de sistema simbólico que se aprende e se transmite aos outros como legado histórico, permitindo interpretar e integrar a realidade, dando assim, sentido à vida humana. Nesse processo, o indivíduo não só aprende a cultura dos seus antepassados, mas também cria novos aspectos que a renovam. Ou seja, um estilo, sistema ou 'modo' de Kung Fu, assim como toda cultura, se movimenta, pulsa, é vivo, portanto, está sempre mudando, nem que seja nos detalhes quase invisíveis, conforme a passagem do tempo e as necessidades que esta mudança suscita. Eis que, é neste movimento de transformação, que tal sincretismo acontece.
Filosofia(s), conceitos:
Muitos acreditam que o Wing Tjun é
filosoficamente budista. Porém, isso não é fato consumado, pois, na época,
budismo e taoismo já se relacionavam enquanto filosofias que aparelhavam
conceitualmente vários estilos de Kung Fu, entre eles, o Wing Tjun. A relação
entre budismo e taoismo é antiga. Por tanto, penso ser um erro afirmar que o WT
seja budista. Esta afirmação está pautada na crença da existência do templo Siu
Lam (Shaolin do Sul), como sendo um templo budista que, supostamente teria sido
destruído em um incêndio. Mas, não existem provas que apontem para a real
existência deste templo. Então, muitos acreditam que ele tenha sido inventado
como estratégia para esconder a existência de uma sociedade secreta que
abrigava o Wing Tjun, seus estudos e estudantes. Nisso, ser budista, ou ter o
budismo como aparato conceitual/filosófico ou religioso, é relativo ao
praticante, mestre, linhagem, família, escola ou modo de Wing/Weng Chun. Na
maioria dos casos, ambos, budismo e taoismo, aparelham o sistema Wing Tjun em
seu caráter filosófico e/ou religioso.
AFWK e o Wing Tjun taoista:
Como escola ou associação, nosso ‘modo’ a que
chamamos de Wing Tjun, por admitir e estudar/praticar tanto o Wing Chun quanto
o Weng Chun Kuen, concebendo-as como artes irmãs, além do Chi Kung e aspectos
do Tai Chi Chuan, I Chuan, da Garça Branca e da Serpente, temos como base
teórico/filosófica e conceitual, o taoismo (e alguns aspectos do budismo e até
do confucionismo, em menor grau, como conhecimentos que fazem parte da cultura
chinesa e do Kung Fu).
Em suma, nossa concepção enquanto organização
percebe e admite nossa arte como sendo fruto de um sincretismo. Ou seja, de uma
integração de conhecimentos diferentes, mas que se encontram e dialogam a
partir de uma mesma essência. E é esta essência que consideramos fundamental na
incorporação do sistema, da arte ou conhecimento. Nisso, é partir do taoismo
filosófico que podemos compreender e unificar estes conhecimentos diferentes,
mas não impossíveis ou contraditórios, pois, é na essência, na raiz, que está o
‘mistério’ que faz desta percepção e prática um conhecimento profundo e
dinâmico. Ou seja, uma síntese histórica, fruto do movimento dialético (ver
conceito/concepção no taoismo, em Heráclito e Marx) que criou o terreno
possível para que o Wing Tjun pudesse existir e ser o que é, não um fim em si
mesmo, mas um campo flexível e fluente de possibilidades.