domingo, 9 de dezembro de 2018

Kung Fu no Brasil: para além da rede social e do discurso


Aos livres de pensamento e estudantes, cuidado com aquela que se gaba ser ‘a maior comunidade virtual (de rede social) de Kung Fu do Brasil’. Por trás deste discurso, existe hipocrisia, vaidade, ego, arrogância, autoritarismo e preconceitos. Discursos que tentam se camuflar em profissionalismo, conhecimento, sabedoria, razão, moral, mas que no fundo são apenas uns discursos moralistas, como tantos. Mulheres praticantes de Kung Fu já se retiraram desta comunidade por sofrerem discriminação de machistas ‘donos da verdade’ que lá se exibem. A história do movimento negro e da capoeira também já foi discriminada naquele espaço, assim como, mais recentemente, se permitiu apologia à ditadura militar. A moderação, claramente é partidária (no sentido ideológico), mas diz que não. Censura muito daquilo que não concorda e elege conteúdos conforme seus interesses ideológicos. Segmenta e segrega, numa prática típica de regimes totalitários – então, não é a escolha de conteúdo o problema, mas sim, a forma como isso se dá.

Os figurões que por lá desfilam (alguns ditos mestres ou sifus – uns podem até ser, não questiono seus quesitos técnicos, pois não é disso que se trata), alguns bem conhecidos pela ‘comunidade marcial brasileira’, tem o Kung Fu como um mero negócio ou como forma de se manterem em evidência, aproveitando-se de certo status ‘idealizado’ culturalmente aqui no Brasil. Um deles, por exemplo, que, se dizendo budista, já se manifestou favorável a pena de morte, o mesmo que também já foi flagrado num surto de desequilíbrio batendo em aluno (e lá se foi seu Kung Fu por água abaixo). Outro se comporta como meritocrata segregador, um ‘empresário do ramo Kung Fu’, usando de ensinamentos escritos e símbolos fundamentais desta arte, como mero discurso para fisgar clientela. Figurões que, volta meia - e sempre os mesmos - agem de forma truculenta, arrogante, medíocre, frente a conteúdos que não conhecem ou que não concordam, mas tem passe livre para imporem seus interesses e discursos elitistas, já que, alguns deles controlam a referida comunidade.

De minha parte (e que sei, de tantos outros e outras), não dignificam este conhecimento milenar e rico em possibilidades que é o Kung Fu. Ao contrário, com suas posturas e atitudes, deturpam, detratam, distorcem, amesquinham, diminuem, desrespeitam uma cultura e conhecimento amplo, dinâmico e profundo, o tornando um produto que, pelos mais sensíveis e críticos, muitas vezes é motivo de piada. Eu e muitos outros(as) que trabalham com sinceridade e vivem o Kung Fu nos seus cotidianos (para além do quesito tecnicista e do discurso ou das aparências), me sinto leve ao saber que não pertenço a este ‘grupo’ de ‘coronéis arcaicos’ que se postam como ‘donos do Kung Fu nacional’, mas que não dignificam esta arte que amamos e nos esforçamos para manter viva, coerente e digna aqui no Brasil. Infelizmente nosso fator cultural brasileiro (crença e modo de vida) tende a ‘consumir’ aquilo que é mais aparente e fácil de assimilar publicitariamente e ideologicamente falando, o que acaba dando força para estes ‘empresários-publicitários’ e ‘coronéis’ do Kung Fu no Brasil. Mas, felizmente, existem muitos outros/as sifus, mestres e mestras no Brasil, assim como praticantes que fazem jus a este conhecimento que, para nós, é uma necessidade, não um status. E é com estes/as que me junto neste Caminho.

Nisso, agradeço a todos os irmãos/ãs Kung Fu do Brasil que vivem esta magnífica arte, cultura e conhecimento na sua essência (ou que pelo menos buscam isso), ultrapassando as aparências e discursos ideológicos que a detratam. Seguimos juntos no trabalho de dignificar nossa arte, fluindo, dialogando, estudando, produzindo, e sendo assim resistência a dureza dos que não fluem, mas impõem. 

O suave e o fraco vencem o rígido e o forte” (Lao Tse).



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