Arte
marcial é um conceito ocidental genérico para definir uma prática que,
comumente está associado à luta, seja ela defensiva, esportiva ou mesmo em meio
a conflitos ou guerras (menos usual hoje em dia). A partir dele, conseguimos
minimamente localizar o assunto que, enquanto professores, mestres e/ou
praticantes (também entusiastas) de alguma ‘arte marcial’, nos diz respeito. E
quando o assunto é este, são várias as leituras, interpretações - e também
ignorâncias em torno.
Quando
falamos em arte marcial, logo nos vem à mente, além do que se conhece ou se
sabe, a localização ou leitura estética de um estilo. Ou seja, imagens que mais
ou menos podem referenciar um estilo de arte marcial, mas não necessariamente defini-lo.
E é justamente aí que está a problemática ou questão. Há um grande ‘impacto
estético’ na concepção de arte marcial, ou seja, uma ‘aparência’ que, para
muitos (os menos aprofundados, criticamente falando), define, não só o que
compreendem enquanto arte marcial, mas, sob tudo, seus ‘olhares’ sobre. Nisso,
é muito comum de se ver por aí, na rede social, por exemplo, discussões
sobrecarregadas de pré-conceitos quanto ao fator ‘externo’ (aparente e/ou estético)
de um estilo, uma arte, assim como, e principalmente, das particularidades,
geralmente desconhecidas, de tal e qual sistema ou estilo de arte marcial, onde
o público (os que assistem ou veem – mas não necessariamente interpretam,
compreendem e conhecem) julga equivocadamente o que veem ou viram, geralmente
de forma reducionista e determinista, aquilo que não sabem ou conhecem. Isso
acontece devido a certa ‘cultura do olhar’ que, durante anos, décadas e
séculos, foi construída a partir de crenças e ‘autodefesas’ (muitas vezes paranoicas)
que, não passam de ‘vícios mentais’, o que também podemos chamar de ‘vícios do
olhar’. Estes vícios fazem com que muitos julguem, critiquem, abominem um
estilo, sistema, ‘modo’, prática, conhecimento marcial, a partir de um critério
meramente estético. Ou seja, não sabem, não conhecem, nunca viram (muitas vezes
nem falar), mas julgam, ‘viciados’ que estão em fazê-lo, pois parte das suas
visões, entendimentos e/ou conhecimentos partem de ‘estereótipos’ criados seja
pelos meios de comunicação de massa (novela, cinema, discursos jornalísticos
superficiais, etc.), por certa prevalência de certo ‘machismo’ (enquanto
cultura masculina ou masculinizada, historicamente e ocidentalmente
constituídas, de ‘autodiscurso, prova de poder, força e conhecimento’, mesmo
que estes sejam frágeis e sem fundamento algum) ou pela ‘negação do diferente’
em benefício da crença ou ideologia próprias – em suma, por certa ‘educação’.
Não
é novidade para ninguém o excesso de ‘egos’ que temos no ‘meio marcial’. Isso,
de certa forma, explica e fundamenta o que digo sobre as ‘heranças’ masculinas ‘machistas’
de valorização inconsciente dos estereótipos e/ou das aparências. Ou seja, da ‘estética’.
Sim senhores, homens acreditam, pré-definem, escolhem e julgam muita coisa pela
estética. Nisso, aquilo que for mais ‘esteticamente convincente’ para estes
homens, na demonstração de força muscular ou dureza dos golpes, por exemplo
(mesmo que por trás desta aparência esteja toda a fraqueza do mundo), assim
como, aquilo que for mais ‘mecânico’ e ‘formal’, geralmente é atribuído por
estes ‘leitores machos’ (porque a prática está além da leitura), como ‘melhor’
ou ‘mais verdadeiro, original, puro’, etc., quando na verdade, a coisa é muito
mais dinâmica e profunda que isso.
Em
suma, o ‘impacto visual e/ou estético’ levado por uma ‘cultura das aparências’
(onde o ego e a vaidade são fortes características), faz com que os ‘estereótipos’
(e não a realidade) sejam mais aceitos e valorizados do que a própria realidade
em si, pois, nem sempre ela, a realidade, é vista com olhos de quem
experimenta, prova, vivencia, conhece, sabe, mas, apenas, de quem simplesmente
ou meramente vê - e nem tudo o que o ‘olhar’ vê, é (viciado que é geralmente o
olhar historicamente e esteticamente constituído ou construído).
Portanto
colegas professores, estudantes ou praticantes, quando formos olhar para algum
sistema, estilo, movimento, postura, ifu (uniforme), símbolo, etc., cuidemos
para não cair em reducionismo e contradição (algo muito, mas muito comum neste
meio) e questionar, criticar ou julgar, não o conhecimento em si, mas a
aparência. Isso é pré-conceito, ignorância que denota falta de conhecimento e
de equilíbrio, algo de muito valor para quem realmente compreende, conhece e
busca na sua prática ou vivência cotidiana dentro de uma arte marcial digna de
sê-la, lembrando que, somos nós, os praticantes, os viventes, que dignificam ou
não aquilo que dizemos praticar ou viver, e é este discernimento que diferencia
um sábio de um mero reprodutor.
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