sábado, 17 de janeiro de 2015

Defesa pessoal (ou auto-defesa): que conceitos são esses? – seus modos e aplicações...

“Nunca teste a profundidade de um rio com os dois pés” (Confúcio)

Durante algum tempo venho lendo, percebendo, pesquisando, estudando, praticando, acompanhando debates que envolvem esses conceitos dentro do chamado ‘mundo das artes marciais’. Praticantes, entusiastas e professores dividem opiniões sobre a questão. Para início de conversa, no mundo dos negócios e da publicidade, ‘se vende muito vinagre ruim por vinho bom’. Não me canso de ver propagandas de academias e escolas ditas de ‘arte marcial’ oferecendo o produto chamado ‘defesa pessoal’, seja em anúncios de internet, folder ou estampado em camisetas. O assunto pode ser tão relativo que suscita controvérsias e uma diversidade de opiniões. Defesa pessoal é papo furado? Apenas discurso para vender o peixe? Risco? Ou realmente funciona? Se não serve ou não funciona, porque exércitos e polícias (os mais preparados do mundo, diga-se de passagem, praticam? Treinam? Estudam?). Penso que tudo isso ou nada disso, pois tudo vai depender onde e de que forma este conceito se concebe, estuda e aplica. Cada momento é um momento específico, portanto, cada realidade tem a sua própria condição, situação ou contexto, e nenhuma é igual a outra. Em suma, aquilo a que chamamos ‘defesa pessoal’ no uso das ‘artes marciais’ para tal, pode e não pode funcionar – eis a parcela de relatividade que, em quase tudo há – porém, existem momentos na vida que não podemos contar com isso.

As situações são variadas e exclusivas, e ao contrário do que muitos reproduzem, ‘a história nunca se repete’. Temos, no máximo, semelhanças de um fato para o outro. Para não me alongar e entrar em uma nova discussão sobre o funcionamento ou não da defesa pessoal, de minha parte, como estudante/praticante/pesquisador e instrutor de Wing Tjun (sistema desenvolvido que leva em consideração certa concepção de ‘autodefesa’), parto do princípio de ‘salvaguarda do espaço, terreno ou território’.  Defender e controlar o próprio território - que é o corpo ou o espaço que o corpo ocupa, neste caso (que é o ‘oposto’ do ataque, pois no sistema W.T. só se define algum ‘contra ataque’ a partir da definição do atacante ou agressor, antes disso, não! – ou seja, contrariando um pouco a ‘lógica’ que diz: ‘a melhor defesa é o ataque’, no W.T. prefiro dizer: ‘a melhor defesa é o contra-ataque’, isso em últimos casos, pois a ‘melhor’ mesmo, é a ‘antecipação’ ou ‘prevenção’), praticando a arte marcial a partir de conceitos e possibilidades criadas, para que ‘o terreno’ ou território (corpo) seja preservado. Ter certo conhecimento e domínio do próprio corpo (e do espaço que este ocupa), da própria condição, do tempo e espaço, para que isso funcione, é fundamental. E como garantir isso? Não há uma garantia dada. Tudo se constrói na prática, no estudo. O que existem são possibilidades e/ou probabilidades. De grosso modo, digo aos colegas e alunos que, ante uma situação extrema de risco, onde se esgotem todas as possibilidades anteriores de ‘defesa pessoal’ ou ‘auto defesa’ (que não se reduz no uso do corpo – conste! – muito pelo contrário, vai além disso), é melhor saber, ter certo conhecimento e habilidade técnica, reflexiva, de noção e/ou certo domínio de tempo e espaço, do que não saber ou ter isso.

Portanto, classifiquei em estágios de possibilidades aquilo que chamo de ‘defesa pessoal’ ou ‘auto-defesa’, pensando nas ‘artes marciais’ e a partir da prática do sistema Wing Tjun, lembrando que, a ‘auto-defesa’ começa pelo uso da razão, ou seja, da consciência. Já na obra mais estudada pelos grandes estrategistas de batalhas e guerras da história, e que é utilizado também no estudo de muitas ‘artes marciais’, Sun Tzu e seu ‘A arte da guerra’ nos ensina:
“A primeira batalha que devemos travar é contra nós mesmos” – assim como: “É melhor ganhar a guerra antes mesmo de desembainhar a espada”.

* A princípio, evitar o confronto, o envolvimento com brigas e situações de risco a integridade física é o primeiro passo a se pensar.

Estágios de possibilidades da ‘defesa pessoal’ ou ‘auto defesa’ (aos praticantes):

- Dentro da minha concepção e do grupo que instruo, aquilo que podemos chamar de ‘defesa pessoal’, se inicia no bom uso da sensibilidade, percepção, intuição, instinto e razão, sendo, a princípio, pelo conhecimento de si próprio, depois pela 'leitura' do outro e do espaço (local) e suas condições - de ambos - e do ambiente que circunda estes entes (corpos): ‘o eu e o outro’. O conjunto destas ‘habilidades’ vou chamar de ‘olhar’ (como: um ‘olhar’ apurado sobre a circunstância);
- Depois desta ‘leitura espacial inicial’, priorizar a prudência – e se necessário for, 'bater em retirada' evitando maiores problemas;
- Respeitar ou considerar a intuição, o instinto e a percepção (a natureza também nos fala);
- Controlar a respiração e assim manter o relaxamento interno e externo/físico (fundamental para manter a serenidade, a calma e não se precipitar evitando o desespero ou atitudes de risco);
- Tentar a diplomacia (diálogo – para isso é fundamental certo arcabouço de argumentos e calma);
- Utilizar-se de estratégia (usando a inteligência);
- Em caso de risco contra a integridade física, entregar os bens materiais sem resistência (em caso de assalto - sob tudo, armado), valorizando a vida sua e de seus acompanhantes, antes de tudo (pois, o que é mais importante?);
* Obs.: Não necessariamente nesta ordem (conste que isso tudo é relativo a situação).

Último estágio, encerradas as possibilidades anteriores:
- Em caso extremo, onde nenhuma das possibilidades anteriores forem possíveis, recorrer para a ‘já única’ tentativa de salvaguarda: a ação física! Mas, para isso, é necessário certo conhecimento técnico e habilidade, além da noção daquilo que citei no início destes tópicos: ‘o olhar’.

*  Em suma, o uso físico de técnicas (corpo) é o último 'recurso'. Quem vende o discurso oposto não preza pela 'auto-defesa' ou 'defesa pessoal', pois, o risco existe e as circunstâncias nunca são as mesmas. Por isso existem 'artes marciais' que vão além da 'marcialidade' (guerra). Ou seja, prezam pela 'antecipação do problema'. Aí falamos em 'artes proativas', uma arte que vai para além do combate. Uma arte aplicada na vida. E este é o caso do nosso Fluir Wing Tjun Kung Fu.



sábado, 10 de janeiro de 2015

Kung Fu, um caminho...


Kung Fu, que definição é essa?

Alguns pesquisadores defendem a tese de que as artes marciais, organizadas de forma ‘militar’ e ‘artística’ (movimentos coordenados) como se veem muito por aí, vieram da Índia e se difundiram e se organizaram assim na China. Convencionalmente e popularmente, o termo Kung Fu é associado a determinado estilo de luta, ou arte marcial. Um termo/conceito que se popularizou no ocidente, principalmente a partir dos filmes de luta e ação chineses e norte americanos da década de 70, sendo que na China, onde essa ‘arte’ dita ‘marcial’ se desenvolveu, os termos usados de uma forma mais geral, eram (ou são) Kuo Shu e Wu Shu. Fontes dizem que na China o uso-termo Kung Fu não era comum quando se tratava de nomear um estilo ou sistema de arte marcial. Antes disso, era (ou é) uma espécie de ‘gíria’ direcionada aqueles que eram ‘bons no que faziam’, independente da função. Algo como um elogio: ‘Esse cara é muito Kung Fu!’ (a exemplo de: ‘Esse cara é foda!’), poderia (e pode) ser dito de um jogador de tênis de mesa que se destaca em determinado torneio, ou quando um músico se mostra virtuoso no palco, entre outras infinidades de exemplos.

O significado do termo Kung Fu é variado e adquire diversas significações (conforme o contexto do uso). Isso acaba traze do algumas controvérsias comuns em debates pelo mundo das artes marciais, principalmente aqueles feitos a partir do ‘senso comum’. Das traduções ou significados mais comuns e diretos que já ouvi (ou li) são: ‘trabalho duro’, ‘tempo de habilidade’, ‘trabalho contínuo’ ou 'constante' (estas últimas as minhas preferidas - e que usamos como conceito no nosso Fluir W.T., sendo o Kung Fu um caminho e não um fim). Também já vi ‘traduções’ que traziam o significado de: ‘maestria adquirida com mérito e esforço’ ou ‘obra e força do grandioso e iluminado homem’, entre outras. Dá pra se dizer que, em todas, ou na maioria delas pelo menos, a ideia de ‘perseverança’ e ‘benevolência’ (segundo Confúcio na sua obra ‘Os analectos’, “benevolência consiste em superar o eu”) é o que resume e ao mesmo tempo aprofunda essa definição, este conceito. Um outro grande pensador, só que ocidental (trata-se de F.W. Nietzsche, um dos mais importantes filósofos modernos) vai dizer ao longo de sua obra que o ‘super-homem é aquele que supera a si próprio’. Outro pensador e conhecido como dos maiores estrategistas de guerra da história, Sun Tzu, em sua obra ‘A arte da guerra’, por sua fez anotou: “A primeira batalha que devemos travar é contra nós mesmos”. Alguns historiadores se apoiam na versão de que o termo Kung Fu vem do nome de um dos grandes filósofos asiáticos antigos (entre 552 – 479 a.C.), responsável por incluir muito da filosofia nessa ‘arte marcial’, trata-se do chinês ‘Chiu Kung’, também chamado de ‘Kung-Fu Tzu’ ou ‘Kongfuzi’, entre outros, tendo seu nome latinizado pelos jesuítas europeus como ‘Confúcio’. Outros nomes que deram o teor filosófico e teórico a ‘arte marcial’ chinesa, tornando o chamado Kung Fu uma forma de comportamento, valores e posturas - ou um modelo de vida a ser seguido, um aparato filosófico e moral, além da marcialidade e da arte, foram o nepalês Sidarta Gautama (Buda), os chineses Lao Tsé (Taoismo), Sun Tzu (A arte da guerra) e Mêncio (confucionista), além do próprio já citado Confúcio, entre outros. A partir das filosofias ou teorias desses pensadores, o Kung Fu passou a ser algo que vai além da prática física e marcial.

É muito comum ainda hoje discussões em torno desta ‘controvérsia’ que no ocidente (assim como é com o termo ‘arte marcial’, sendo que ‘marcial’ remete-se a ‘Marte’, deus romano da guerra) convencionou-se chamar de Kung Fu. Alguns ainda reduzem o termo a uma luta, simplesmente. Se levarmos em conta a história, os ensinamentos e importância de mestres do pensamento como os já citados anteriormente, não podemos reduzir o termo/conceito Kung Fu a, simplesmente, um estilo de luta, pois, para além da prática marcial (estratégias de combate, técnicas de luta, condicionamento físico, etc.), temos a arte, talvez o ponto menos visualizado e considerado no conceito ‘arte marcial’ por grande parte dos praticantes, e além da arte, temos a questão filosófica e teórica/conceitual, fundamentais na constituição de um aparato que vai além da prática física. Talvez um dia, num passado bem distante, o Kung Fu, já tenha sido algo mais rude, duro, hostil, inóspito, feito ou usado simplesmente para o combate em campo, para a guerra, pela luta física e estratégica. Talvez, pois esta certeza não existe.

Se vinda da Índia, provavelmente por monges budistas, e tornada mais ‘complexa’ na China, sofrendo influência da filosofia asiática, a arte marcial nunca tenha sido apenas uma luta destinada a guerra, e se por acaso assim tenha sido um dia, depois da integração da filosofia asiática antiga, com seus preceitos morais e fundamentos espirituosos, a arte marcial, com certeza, passou a ser este ‘complexo’ que é. Porém, com a ‘ocidentalização’ e ‘comercialização’ das artes marciais (o que também não é algo novo), muitos praticantes, entusiastas e até professores e mestres, reproduzem a concepção ‘reduzida’ das artes marciais, tratando-a como uma forma de luta unicamente, seja para esporte ou defesa pessoal, ignorando sua arte (linguagem física e conceitual), sua filosofia e espirituosidade.

“Se a meta de um homem é conseguir avanços de conhecimento, tanto pensamento quanto aprendizado são igualmente necessários”. (Confúcio)


Kung Fu, um caminho! 

(Kung Fu, às vezes, não é o mesmo que Arte Marcial)

Devido a alguns debates um tanto ‘desnivelados’ em torno do uso do termo/conceito Kung Fu que travei pelo mundo virtual, um dia resolvi, a modo de posição frente a isso, além da desconstrução dos conceitos, assumir a ‘noção’ de que não pratico artes marciais (ainda mais no plural), e sim Kung Fu. Ou seja, o que eu quis com isso foi dizer que, se ‘arte marcial’ se reduz a demonstração de força física ou luta, seja ela esportiva ou defesa pessoal, eu não pratico arte marcial, pratico Kung Fu, pois, nessa minha definição (e não só minha), tenho o Kung Fu como algo ‘maior’ (ou mais profundo ou complexo) do que meramente luta. Algo que não existe sem arte, filosofia, teoria, conceitos e certa espirituosidade, além da prática física (o que em momento algum é negada). Nisso, dá pra se dizer que o Kung Fu, além da prática física, é uma prática comportamental e intelectual, frente a sociedade, um postura munida de ideia e postura próprias, tendo em vista uma tal ‘benevolência’ (leia-se Confúcio e a ‘superação do eu’), ou seja, pensar e atuar tendo em vista sempre o ‘outro’. Isso deveria ensinar (e ensina os bons ‘artistas marciais’, que também são ‘filosóficos’), a ver e viver para além do ‘eu’ (‘ego’, que para alguns mestres é o ‘inimigo’ nº 1 do Kung Fu), do próprio umbigo, do egoísmo individualista, tão comum e perceptível neste mundo cartesiano utilitarista, ‘das coisas’, um mundo potencialmente comercial, onde promessas publicitárias enchem academias e criam ‘novos estilos’ que, pretensamente, discursam ‘melhorar os tradicionais’ (discurso típico ‘ocidentalizador’), e onde, muitas vezes, arte marcial é sinônimo de estupidez e incoerência. Por isso e por outras, às vezes, faço dizer que pratico Kung Fu e não artes marciais, que é um dos 'caminhos' que escolhi para viver.





domingo, 4 de janeiro de 2015

Wing Tjun Kung-Fu, o que é?

Wing Chun é um sistema do que no ocidente ficou conhecido como Kung Fu e/ou também ‘arte marcial’. Desenvolvido no Sul da China a mais de 300 anos (final do século XVII, início do séc. XVIII), sua criação e constituição possuem mais de uma versão histórica (além das lendas, simbologias e romantismos em torno do mesmo), assim como em sua forma escrita, tem variações nos modos de se conceber e praticar os movimentos e conceitos, fazendo deste sistema algo dinâmico e diversificado em seus modos de ser e praticar. Wing Chun, Ving Tsun, Wing Tjun, entre outras, são formas de se remeter a este 'estilo' ou 'sistema' de Kung Fu (consideremos aqui suas variações, por mais que alguns afirmem que o sistema só tem uma forma de ser e praticar).
Convencionou-se também dizer que W.T. (sigla de abreviação para Wing Tjun) é um sistema de ‘defesa pessoal’ constituído a partir de práticas reais. Mas o W.T. não se resume a isso. Na prática, busca por eficiência é uma das suas principais características, o que o torna um sistema que vai além da ‘marcialidade’ (no sentido de ‘guerra’ mesmo), ou seja, neste sentido o W.T. é um sistema proativo (antecipatório). Basicamente, é uma ‘arte marcial’ desenvolvida através do tempo para permitir que qualquer tipo de pessoa, independentemente de tamanho, força ou sexo, possa se defender de agressores maiores e mais fortes.
Suas origens são controversas, mas pesquisas e o próprio conhecimento em Kung Fu, mostram que o ‘estilo’ veio de dois outros estilos mais antigos. São eles: o Emei, Snake (Serpente) e a White Crane (Garça Branca), animais/estilos, inclusive, que são símbolos do sistema. 

O simples que é complexo
O sistema W.T. não é ‘tão simples’ como costumeiramente se diz. Podemos dizer que foi ‘simplificado’ para sua mais rápida e prática assimilação, o que gerou algumas ‘distorções’ quanto a forma mais ‘popular’ de concebê-lo. Tornou-se com o passar das gerações, um sistema onde mestres incluíram novas técnicas, ao tempo que retiravam outras. Enquanto na maioria das ramificações ou estilos de Kung Fu seus praticantes levam muitos anos para tornarem-se instrutores ou professores, no Wing Tjun, se o aluno for dedicado, mantendo uma rotina de estudos com foco, perseverança e 'incorporamento' do sistema, em 'pouco tempo' (relativo aos estilos mais 'clássicos' por assim dizer) pode até tornar-se instrutor. Por isso se diz que o W.T. é de, relativamente, fácil e rápida adaptação (comparado a outros ‘estilos’ de Kung Fu), permitindo até a inclusão de outras técnicas que venham ao seu encontro e tenham afinidade com seu modo de ser.
Em muitos estilos de artes marciais procura-se bloquear o ataque do agressor para depois contra-atacar. No W.T. o princípio básico é o de utilizar a força (ou energia) do oponente contra ele próprio, onde a defesa, muitas vezes, já funciona como um ataque e vice-versa. Defender atacando (ou contra-atacando) e se utilizando da energia (ou força) do oponente ao próprio favor, é o que identifica e torna o Wing Tjun uma das artes marciais considerada por muitos, das mais eficientes do mundo. Outro elemento que caracteriza esse estilo, é a concentração e distribuição de energia, o que, se bem utilizado, favorece seu praticante, sendo que este, passa a depender menos da força física-muscular, usando mais o raciocínio ou a inteligência, a física mecânica propiciada pela ‘forma’ do sistema e a ‘energia interna’ (a partir do conceito de ‘chi’ – ‘energia vital’) que circunda e integra os seres, emana do cosmos, da natureza e é distribuída pelo próprio corpo. A prática do W.T. faz o praticantes pensar rápido, sendo intuitivo e focado naquilo que acontece no momento da ação, sem maiores desgastes, sejam eles físicos, mentais ou emocionais. Conceitos como o de ‘derretimento interno’ e ‘relaxamento externo’, são fundamentais nesta compreensão e feitura. Mas não são todas as escolas ou linhagens que se utilizam do fundamento e da chamada 'prática interna' (uso da energia 'chi') em seus modos de se estudar, conste. 
O Wing Chun ficou conhecido sob tudo no ocidente depois que apareceu no cenário mundial do cinema e das artes marciais o ‘astro’ Bruce Lee (Lee Jun-fan), que foi por um breve tempo aluno do mestre Yip Man, conhecido como um dos grandes mestres do W.T. mundial e um dos responsáveis por tornar a prática do W.T. mais ‘simples’ e 'prática' (relativizemos isso), segundo a opinião de alguns pesquisadores. Bruce Lee, através de sua fama, foi parte responsável pela ‘popularização’ do W.T. e da chamada 'linhagem Yip Man'. Foi a partir do seu breve conhecimento de Wing Chun que Lee acabou criando o Jet Kune Do.
Atualmente existe uma infinidade de praticantes, professores, modos, formas, mestres e pesquisadores e suas escolas, linhagens ou famílias de Wing Chun/Tjun pelo mundo, nos mostrando que não existe um só modo de se conceber e se praticar esta arte. 

Algumas características, elementos, visões e/ou leituras do sistema Wing Tjun a partir de nossos estudos e concepções:

1. desenvolvido basicamente para pessoas 'mais fracas' se defenderem de pessoas 'mais fortes', em algumas versões históricas ou teses, a partir do Emei e da Garça Branca, é um sistema 'proativo', para além da marcialidade;
2. busca a máxima eficiência;
3. trabalha a 'parte interna' e a 'parte externa' simultaneamente;
4. é defensivo e não ofensivo (ou seja, não foi feito para atacar simplesmente, mas para defender-se contra-atacando, onde, em muitos casos, a defesa é um ataque);
5. 'o simples que é complexo': não é tão simples como se convencionou dizer, foi 'simplificado' (onde predomina, em muitas escolas e linhagens, a 'parte externa' que enfatiza mais a mecânica e a parte física dos movimentos);
6. os movimentos de aplicação são em 'espiral' e não 'retos' como muito se convencionou praticar por aí, por onde o fluxo de energia se move, o que favorece a dinâmica do movimento, assim como seu redimensionamento;
7. as escolas oriundas do GM Ip Man (mais populares e praticadas no mundo todo) ditas por muitos como 'tradicionais' ou 'o verdadeiro Wing Chun', não é das gerações mais antigas do W.T. na China;
8. o GM Ip Man, como outros mestres também o fizeram ao longo da história, modificou o Wing Chun aprendido com seu mestre e sua linhagem, adotando outros modos e mestres de outras linhagens, adaptando assim sua forma e conceitos, o que gerou grande crítica pelos 'puristas' a sua pessoa e seu modo no seu período - e hoje, em muitos casos, isso se repete;
9. a mecânica, forma 'reta' e 'dura' dos movimentos que se vê muito por aí no Wing Chun (mais popular), faz parte da 'simplificação' ou adequação do sistema para que, em dado período histórico, mestres pudessem ensiná-lo mais rapidamente, onde a 'parte interna' ficou 'um pouco' de lado, tornando-se, para alguns, algo estranho dentro do sistema;


Continua...



quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

APRESENTAÇÃO (atualizada, 2019)

O 'lugar' de onde falo:

Meu nome é Herman Gomes Silvani. Sou/estou professor de humanas e sociais (filosofia, linguagem, sociologia e história); Taoísta (filosoficamente e espiritualmente); Também tenho vínculos com as Artes, como escritor, compositor musical e fotógrafo; além de eterno estudante e professor de Wing Tjun Kung Fu e Chi Kung - e praticante de Tai Chi.

Breve contexto: 

Iniciei meu caminho no Kung Fu em meados de 1990, naquilo que chamávamos na época de ‘Shaolin’, com um professor muito conhecido na cidade (Chapecó/SC), chamado Zeu (também tive alguma experiência em Karatê, não me adaptando). Inspirado nas revistas de Kung Fu, bastante comuns na época, e nos filmes de Bruce Lee. Foi então que conheci o sistema Wing Chun. Acessei e pratiquei WT do ‘modo’ Ip Man, experienciando duas vertentes vindas de dois mestres que estão entre os maiores alunos do mestre Ip. São eles os sifu’s Wong Shun Leung e Leung Ting, e seus respectivos ‘modos’, a partir de um professor que se chamava Marcelo, encerrando o segundo nível (Chum Kiu) de ambos os ‘modos’ (além de aspectos da Biu Tze, Muk Yan Chong e Bart Chan Dao).

Um tempo depois, conheci outra pessoa que praticava Kung Fu, e que trabalhou e estudou por alguns anos no sudeste asiático (Vietnam, Indonésia e Taiwan), chamado Arthur. E foi dessa região que ele trouxe alguns de seus conhecimentos em Kung Fu e ‘artes internas’. Foi com ele que aprendi aspectos fundamentais do Wing e Weng Chun Kuen, Garça Branca, Chi Kung e Tai Chi, além de elementos da Serpente e de um estilo que hoje sei, se chama Chu Kar. * A partir de 2015 é que fui buscar as raízes ou origens do nosso Kung Fu, formalmente falando. 

Nos anos 90 eu era muito jovem, mas bastante dedicado. Na época não ligava muito para a origem dos estilos, linhagens, etc. Os treinos eram praticamente diários, entre os locais de treino e em casa. Este período durou cerca de 3 anos. Jogava também futsal, e por imaturidade, acabei lesionando os joelhos. Então tive que, oficialmente, parar com as práticas ‘marciais’. Os anos passaram e eu perdi contato com os professores, dos quais só gravei os nomes, mas fiquei ainda um tempo praticando com colegas e amigos de prática, movido pela paixão. 

Passei mais de 15 anos sem treinar com orientação direta de professores, mas segui praticando esporadicamente, principalmente Chi Kung e alguns elementos do Tai Chi e do Kung Fu. Retomei a prática mais concentrado em 2011. Foi então que, depois destes anos, em 2012, voltei a treinar 'oficialmente' com um praticante muito habilidoso que foi por um tempo meu professor (novamente no modo Ip Man e Shaolin), chamado Mauro Flores. Assim, aos poucos fui retomando meus antigos conhecimentos e habilidades. Mais maduro ou consciente, estudando mais concentrado e profundamente, as coisas passaram a ter mais sentido. 

Em 2014 comecei dar algumas aulas, substituindo o professor Mauro, que aos poucos desistiu de lecionar. A mudança de paradigma veio em setembro do mesmo ano, quando tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o sifu holandês Sergio Pascal Iadarola (um dos grandes sifu's do Kung Fu e artes internas mundial atualmente) em um seminário especial que tive com ele e sua associação, a IWKA (Internal Wisdom and Knowledge Association), em Porto Alegre/RS. A partir deste contato com o sifu Sergio e sua escola, foi que tive uma nova compreensão que me fez buscar as origens do meu conhecimento em Kung Fu. Com isso pude relacionar e somar meus conhecimentos que de certo modo eram fragmentados, e assim aprimorar meu Kung Fu, entendendo que o principal elemento não é a técnica ou o fator externo de um sistema ou estilo, mas sim, sua essência. Esta compreensão possibilitou o desenvolvimento de um ‘modo’ de Kung Fu, que hoje repasso aos meus alunos e ‘irmãos Kung Fu’. Nisso, movido por esta mudança de perspectiva e pela necessidade, busquei meu caminho para integrar o conhecimento fragmentado que possuía. Com esta nova compreensão, pude unir conhecimentos (os citados acima no início deste texto) e não isolá-los, como fazia anteriormente. Por isso este encontro com o sifu Sergio e IWKA foi fundamental. Um ‘divisor de águas’! Em dezembro do mesmo ano, trouxe para Chapecó o então instrutor chefe da IWKA no Brasil, sihing Daniel Jaeger para treinos a partir do currículo e metodologia IWKA na época. Depois, fiz algumas aulas com ele nas minhas idas para Porto Alegre. No final daquele período, havia sido oralmente admitido na IWKA, porém, Daniel se desvinculava nos mesmos dias da associação, o que impossibilitou minha adesão formal à ela, já que era ele o responsável por isso no Brasil.

Depois disso, ainda tive outras experiências (informais) com outras artes marciais (testes e estudos). Retomei a pratica de  Chi Kung (oficialmente) com uma professora chamada Rose. Com isso também tornei a aprofundar-me nos estudos filosóficos taoístas, budistas e confucionistas, incorporando o taoísmo filosófico em aspectos da minha vida e práticas cotidianas, e como base orientadora do meu Kung Fu e da associação. Foi então que resolvi desenvolver um currículo próprio, baseado nos conhecimentos que adquiri em todo este tempo.

Movido por uma necessidade de ter um currículo coerente com a realidade local, minha e de meus alunos/irmãos Kung Fu, nasceu assim, em 2015, a AFWK (Associação Fluir Wing Tjun Kung Fu).

De lá para cá, foram muitos estudos, pesquisas, treinos, práticas. Em 2017, conheci o sifu Carlos Artur Schacker, que foi aluno de um aluno direto da linhagem Pai Lin de Tai Chi Chuan, que hoje é um bom amigo e meu professor de Chi Kung e Tai Chi no estilo Pai Lin.

"Aquele que souber adaptar-se será preservado até o fim" (Lao-Tsé)

A AFWK é uma escola jovem, e nosso currículo ainda está em construção - em constante desenvolvimento - ou seja, não é um currículo fechado (mas isso não significa que não tenha consistência). A partir do que nos ensina a filosofia taoista que nos orienta, seguimos o fluxo. Na AFWK estudamos/praticamos Wing Tjun (buscamos referência direta na forma escrita da IWKA: Wing Tjun), talvez com alguma resignificação devido ao que é próprio da nossa realidade e das nossas experiências. Em suma, o ‘modo’ AFWK (também chamado Fluir) é basicamente o estudo e prática de Wing/Weng Chun e Chi Kung (com elementos dos estilos de Kung Fu Bai He (Garça Branca), Serpente, Chu Kar, do Tai Chi Chuan e I-Chuan - conhecimentos que se encontram e se relacionam pela essência), e o taoísmo é a base filosófica (conceitos e concepções) que orienta nossos estudos e práticas. 

(Obs.: não pertencemos ou seguimos uma linhagem em específico, por isso os mestres mencionados são referências, inspirações ou influências, outros, fazem parte de nossa base conceitual/teórica e/ou prática)




GM Sifu Sergio Iadarola (IWKA) e Herman Silvani (professor AFWK), 2014



   
                                               Seminário (treino especial) IWKA em Porto Alegre/RS, com Sifu Sergio, 2014


















Seminário/treino em Chapecó/SC (2014), com o então sihing Daniel Jaeger, IWKA Porto Alegre


                                                    Professor Herman Silvani praticando Chi Kung/Tai Chi no litoral catarinense (2011)


Herman Silvani (aluno no contexto), professor Mauro Flores e aluno Maurício Gomes - Wing Chun e Kung Fu 'Shaolin', 2013

















Praticando Chi Kung, ritual do chá e primeira 'passagem de nível' da AFWK, 2016




AFWK, alguns alunos/as (aula/encontro, primeira passagem de nível), 2016




AFWK, alguns alunos (aula/encontro, ritual do chá e segunda passagem de nível), 2017



                                                
                      Pratica de Chi Kung junto a natureza, em praça pública, 2018

   


                      Chi Sao / Tui Sao (práticas de Wing Tjun e Tai Chi Chuan junto a natureza)





                             

                               Cerimônia do chá (Bai Si) e 3ª passagem de nível da AFWK, 2018



















Estudo taoista, a partir das obras fundamentais e homenagem a memória de grandes mestres que nos inspiram, são bases e referências da AFWK.



























* fotos: Liza Bueno.