segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Modismos e as deturpações que eles causam: fenômeno típico da sociedade das aparências

Além do conservadorismo neofascista motivado por alguns ‘líderes políticos’ e/ou religiosos, de estilos musicais midiáticos como o sertanejo sofrência e universitário e funk ostentação (estilos massivamente vinculados nas emissoras de TV e rádio), tá na moda a arte marcial fitness, o consumo de orgânicos e artesanais, o yoga, o uso banal de ayahasca e do rapé (muitas vezes usados como drogas e não como espiritualidade pelos modistas), ambos conhecimentos que foram ocidentalizados, entre outros produtos da indústria do espírito, da mentalidade e do corpo padrão-idealizado. Mas, parte disso tudo, do que vivemos na sociedade ocidental (platônica judaico-cristã), é discurso e modismo, e não necessariamente realidade com toda profundidade que ela pode ter. Fruto da busca enlouquecida de muitas pessoas por algum sentido de vida além do materialismo e tudo o que as engole e as torna parte de um mecanismo de controle e mecanização dos dias, horários, da mente, corpo e alma. E que bom que muitos estão buscando caminhos ‘alternativos’ para ser estar no mundo. Porém, muitos destes caminhos não são os autênticos, sinceros, ampliadores de mentalidade, espiritualidade e percepção de mundo, não são nem caminhos, são desvios, atalhos, distorções, alimento de vaidades e egos, dentro de uma lógica da ‘sociedade do espetáculo’ (sociedade das aparências e de consumo), onde muitos, buscando preencherem seus ‘buracos’, furos ou faltas, se atiram de cabeça em práticas que muitas vezes não são bem estruturadas nos seus sentidos internos. 

Estas práticas, sem suas ‘filosofias’, sem seus estudos conceituais, que levam realmente à uma mudança de comportamento e prática sociocultural, são meras distrações, alegorias e/ou artefatos que servem de alimento do teor egóico, assim como das aparências, que banalmente enchem a sociedade de imagens, discursos, mas não necessariamente de vidas plenas e integradas ao espírito do todo natural e sociocultural. É muito comum hoje em dia, por exemplo, vermos pessoas que se dizem consumidoras de orgânicos, mas que se manifestam contra seus produtores, no caso, a agricultura familiar e movimentos sociais como o MST e a Liga Campesina (maiores produtores de orgânicos do mundo). Pessoas que praticam yoga ou alguma arte marcial oriental, artes filosoficamente pacifistas e espirituosas, assim como muitos que se dizem cristãos ou budistas, mas reproduzem discursos de ódio e praticam violências.  

Nisso, às vezes penso que parte significativa do brasileiro tem o ‘dedo podre’, ou seja, opta quase sempre por aquilo que é aparente, geralmente anunciado como bom e saudável, a partir de certo discurso e propaganda publicitários, pura produção e retórica, caindo nos artifícios do mercado e sua publicidade, passando a consumir e praticar a superficialidade das coisas, nunca chegando assim até a essência. Esta é a diferença de uma coisa e de outra. Para além das palavras e da aparência, está a essência, e é disso que estou falando. Além de parecer e falar, é preciso viver, praticar, estar integrado ao conteúdo que se diz praticar ou fazer parte, e além da parte externa, também interna. No taoismo chamamos isso de ‘estar no Caminho’.

            Em suma, é necessário ‘estar no Caminho’, integrado, afinado ou equilibrado neste fluxo que a própria vida ou natureza nos oferece como uma condição e não como uma simples fuga ou desvio, onde muitos estão ou como muitos praticam. É a necessidade que deve guiar estas escolhas, estes caminhos, estas buscas, e a partir disso, a sinceridade em ser e estar neste todo, pois, uma vez tocada a essência, ela passa a fazer parte de nós, e nós, dela. Quem não busca ou não chega na essência, permanece na superfície, e esta é a diferença entre a aparência e a essência, entre o estereótipo e a verdade, entre necessidade e vaidade.