terça-feira, 26 de dezembro de 2017

A essência de nosso Fluir...

Porque Wing Tjun e Fluir?

Algumas pessoas, volta e meia, me pedem sobre o nosso Kung Fu, sobre o nosso Fluir Wing Tjun, porque escrevemos Wing Tjun e não Wing Chun ou Ving Tsun, como é mais comum.
A razão interna, se dá ao fato de nossa escola/associação ser de Wing Chun e Weng Chun Kuen, artes 'irmãs' (além do Chi Kung), como principais sistemas de estudo ou prática, e por não seguirmos uma única 'linhagem' ou 'modo' de Wing/Weng Chun.
Somado a isso, estudamos/praticamos elementos ou aspectos ('internos' e 'externos') importantes dos estilos Garça Branca (Young Chun, Foshan), 18 Mãos de Lohan, Emei Serpente e Tai Chi Chuan. Também as filosofias provenientes principalmente do taoismo, depois do budismo, e alguns aspectos também do confucionismo, como conteúdos e conceitos fundamentais nos estudos e práticas da AFWK.
Adotamos esta 'forma escrita' inspirada no sifu Sergio Iadarola e IWKA (um dos maiores sifus do WT e Kung Fu mundial atualmente), devido aos seus estudos/pesquisas na área.
Portanto, nada foi ou é inventado, tudo é pesquisado, estudado, praticado e integrado, a partir de referências e experiências, organizado em currículo próprio.

"Mente, Corpo e Energia: Equilíbrio!"

Em suma, chamamos Wing Tjun a 'soma' (não uma mera mistura - existe todo um fundamento e organização filosófico-conceitual e curricular para isso) destes conhecimentos integrados, pois ambos, possuem uma só (e mesma) essência, e é disso que se trata nossa arte, nosso 'modo': de 'essência'.

Nisso, Fluir é o nosso caminho, nossa busca, nossa prática, nossa 'essência'...

"Seja suave e constante (...) As coisas Caminham ou acompanham" (Lao Tse - 'Tao Te Ching')

* Herman Silvani (professor AFWK)




quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

‘Mestres’ do desequilíbrio do Kung Fu no Brasil

O Kung Fu, por mais que alguns não queiram saber disso, possui certos valores relacionados a sua prática. Mas, é bom que se diga, existe o Kung Fu meramente físico-externo, ou seja, que foca somente na prática física e técnica (quando não estética), e o Kung Fu interno-externo, que abrange ‘o todo’ deste profundo conhecimento, que, vai além, muito além da luta e do quesito técnico. Definindo assim, concebo o primeiro como incompleto. Nisso, Kung Fu não é um ‘estilo de arte marcial’ como muitos pensam ou dizem. Kung Fu é um conhecimento profundo, complexo, que acaba inspirando certos comportamentos, posturas, posições sociais e culturais do indivíduo que o pratica. Neste sentido, que é mais amplo, KF passa a ser uma visão, um comportamento e até um modo de vida, caracterizado por certos valores morais e condutas sócio-culturais. Conhecimento intelectual e prática que confluem em certa ‘espiritualidade’ (leia-se conceito no taoismo filosófico). Na minha escola, gosto de dizer que Kung Fu é uma arte ou conhecimento para a vida, e ao se chegar neste nível de compreensão, é o que chamo de ‘incorporação’. Ou seja, é preciso ‘incorporar’ o Kung Fu para que ele seja ‘completo’, ou no mínimo abrangente, coerente, condizente com sua história, cultura, valores, comportamentos e conhecimentos que suscita. Dito isso, vamos ao problema...

Está rolando na rede social duas polêmicas (sim, de novo!) quanto a certas atitudes de certos ‘mestres, shifus, sifus ou professores’ e ‘estudantes’ e suas escolas. Polêmicas que envolvem violência psicológica e física (existem outros fatos que eu poderia citar aqui, mas vou tentar me conter, basicamente, nestes dois). Foram ambos, fatos de violência física vinda de ‘professores’ membros de duas conhecidas ou ‘populares’ escolas de Kung Fu no Brasil, um contra um aluno/estudante, o outro contra um outro professor de outra escola de KF e seu filho. Em ambos os casos existem imagens registradas dos acontecidos. Num deles, o suposto ‘mestre’, nitidamente descontrolado, bate em um aluno, no momento de um treino, onde deveria instruir seu aluno, dentro de certas técnicas, e não ‘espancá-lo’ como se vê no vídeo. Vendo as imagens, nitidamente se percebe o ‘desequilíbrio’ do dito ‘shifu’. Um homem grande, pesado, forte, dos ‘mestres’ mais ‘pop’ que se conhece no Brasil (volta e meia aparece em programas espetaculosos de auditório exibindo suas façanhas ditas de energia ‘chi’ e etc.). E é justamente aí que mora a incoerência. Sendo eu taoista, filosoficamente falando, além de professor na área de humanas e sociais e linguagens, com especialização em educação (além do Kung Fu e Chi Kung), posso dizer que a(s) atitude(s) deste ‘mestre’ em questão não são atitudes de um ‘bom professor’. Pode ter a técnica que tiver, o sucesso em sua escola que for, mas, isso não significa que o sujeito é um bom mestre. Muito pelo contrário. Alguém chegou a dizer que ‘atitudes como as dele queimam o filme do Kung Fu no Brasil’. Sim, concordo. Mas, é só mais um a fazer isso. Certa feita, numa comunidade de facebook chamada Kung Fu Brasil, publiquei um trecho do Tao Te Ching (fundamental obra do taoismo, atribuída a Lao Tse), onde fui esculachado por alguns praticantes, professores e entusiastas do KF, e entre eles, estava este ‘shifu’ em questão. Como a citação do Lao Tse era de cunho humanitário-social, algumas palavras proferidas por este ‘mestre’ foram:

“Coletivizar a criação de autor é a monaliza dos esquerdistas. Va trabalhar e criar alguma coisa rapa! Enquanto isso vai socializando as mensalidade de dua academia pra ver no que da.
Ps: eu sou facista sim e ai?
Ps2: va esquerdar em outro lugar!
Obs: viva Churchill
viva o capitalismo! 
A Mestra Sinceridade do Templo Zulai era anti esquerda e a favor da pena de morte. Eu sou apenas um discipulo! O Budismo é altamente meritocratico. Quem pode mais chora menos” (copiei e colei – e guardei)

O assunto nem era este, mas, o nível do ‘debate’ baixou a isso. A partir deste ‘diálogo’, dá pra se ter uma ideia do caráter, do nível, e das concepções deste ‘mestre’. Nisso, outros ‘professores’ de outras escolas populares e alguns de seus alunos, somaram-se ao coro do ‘shifu’ em questão e ouve um ‘espancamento’ verbal a minha pessoa. Sorte que pratico um estilo ‘auto-defensivo’ também nas palavras, então conseguir sair ileso da situação.
Em resposta ao fato recente de agressão envolvendo o mesmo ‘mestre’, ele disse, tentando justificar o fato:
“Não é agressão, é combate real, é  Hard Kung Fu, Kung Fu não é pra fracos.. e aqui é (nome da sua escola)!”

Percebam, na frase, o ego, o clichê, o discurso moralista-publicitário.

Um dos alunos da escola em questão, presente no dia do acontecido, no mesmo grupo Kung Fu Brasil onde o vídeo voi publicado, veio em defesa de seu ‘mestre’, sua escola – e do ato de violência contra seu colega – dizendo arrogantemente: ‘venham treinar Kung Fu de verdade!’ – quer mais clichê e doutrina que isso? Nisso, penso que, algumas escolas e seus ‘mestres’ funcionam como religiões ou seitas fundamentalistas, onde o doutrinador domina e controla seus doutrinados, numa relação similar entre o ‘pastor’ e suas ‘ovelhas’.

A outra situação atual, diz respeito a um evento de arte marcial, onde um professor de Kung Fu com seu filho (menor de idade, segundo ele) assistia o evento, e pelo lado de fora do local foram agredidos por outro ‘professor’ e alguns de seus alunos, de uma escola popular também aqui no Brasil, esta do estilo Wing Chun. A mesma escola em que, uma ex-aluna minha, jovem, pouca experiência, mas muito entusiasmada, buscou continuar seus estudos, já que mudou aqui de Santa Catarina para São Paulo, e queria continuar no Wing Chun, pois se apaixonou pela arte que conheceu e praticou aqui na nossa singela AFWK. Só que, chegando no local, quando foi buscar esta escola, teve um tratamento grosseiro e ‘machista’ por parte do professor. Resultado: decepção! Tanto que, acabou migrando do Wing Chun para o Hung Gar, numa escola onde encontrou acolhimento, bom senso e respeito do professor e colegas. Aí vem aquela máxima que diz que, ‘tal professor, tal aluno, tal escola!’.
Infelizmente, este são apenas uns dos vários casos de mediocridade no meio do Kung Fu, e, vindo de ‘grandes escolas’ que muitos dizem ‘referências do Kung Fu no Brasil’. E o Kung Fu Brasileiro, muitas vezes, para quem vê além do estereótipo, é motivo de crítica, quando não piada. Mas, ele não é todo igual. Ufa! Conheço bons professores, boas escolas, geralmente mais simples ou singelas, que não figuram entre as mais publicitárias e que seus professores ou mestres não são ‘figurões carimbados’ do Kung Fu nacional. Enquanto alguns fazem panca de ‘fodões’ do Kung Fu e agem de forma estúpida, medíocre, mesquina, fraudulenta e desequilibrada, outros fazem jus ao Kung Fu, não é para o ego pessoal ou para o bolso, mas sim, para a vida.

“O que você sabe não tem valor; o valor está no que você faz com o que sabe.” (Bruce Lee)

Sem os valores, as virtudes, as filosofias que fundamentam a prática do Kung Fu, não há ‘incorporação’ - que o digam os tratados e princípios como o Wu De, Kuen Kuit, O tratado do Imperador Amarelo, entre outros -, portanto, não há o Kung Fu, mas sim, apenas uma simulação dele, uma representação, um estereótipo que, sim, muitas vezes, na parte de demonstração e esporte, assim como, ‘espetáculo’ ou ‘agressão’, funcionam bem, mas em ‘todo resto’ da vida, não. E este ‘todo resto’ é muito maior do que uma luta, um uniforme bonito, um discurso ou lema (hipócrita), uma aparência. Academias cheias não significam Kung Fu bom. Kung Fu não é feito de números, siglas, discursos ou aparências. Kung Fu digno de sê-lo é feito de virtudes e práticas condizentes com seu propósito, que é o de equilibrar a vida, não o de enchê-la ainda mais de falsas morais, estupidez, violências e mediocridades.  


  • Herman Silvani (professor de Wing Tjun Kung Fu e Chi Kung na AFWK; professor de filosofia, sociologia, história e linguagens; praticante de Tai Chi Chuan Pai Lin).