No meio dito ‘marcial’ do Kung Fu, especificamente do Wing Chun, com suas várias comunidades e/ou perfis no facebook, muitos praticantes (e incrivelmente, até sifu’s), comumente distorcem ou detratam ‘modos’ diferentes dos seus, de se conceber, estudar ou praticar o sistema. Alguns por não conhecerem e compreenderem estes ‘modos’, outros por não terem bom senso. Infelizmente isso é muito comum neste ‘universo’ (que às vezes não passa de uma ruazinha estreita). O fato (que alguns não querem entender) é que existe uma gama de diversidade de ‘modos’ (ou ‘estilos’) de Wing Chun e de Kung Fu pelo mundo. Dentro de um mesmo estilo podemos encontrar ‘modos’ diferentes, sendo que, muitos deles são adequações de outros.
(...) “como explicar o gosto de uma fruta, por exemplo, comparando
seu paladar ao de outra fruta conhecida: quem jamais provou o sabor da primeira
poderá compreender a descrição, mas não conseguirá conhecer a sensação do
verdadeiro gosto da fruta descrita”. (mestre Wu Jyh Cherng, a partir da interpretação do ‘Tao te Ching’
de Lao Tse)
Alguns muitos grandes mestres
desenvolveram seus próprios caminhos dentro do sistema, o que os tornou muito
conhecidos e seguidos. Porém, estes ensinaram outros que, por suas vezes,
também ‘transformaram’ suas práticas, criando ‘modos’ diferentes do seu mestre.
Outros ainda, tiveram mais de um mestre ou professor, como é o exemplo do GM Ip
Man (o mais popular entre eles) e Yuen Chai Wan, que além do Wing Chun, estudou
e ensinou Weng Chun Kuen, Chu Kar, entre outros estilos de Kung Fu (além das
artes internas), desenvolvendo o seu próprio ‘modo’, sua própria ‘escola’. Isso
tudo enriquece o conhecimento. Porém, alguns não se dão conta disso, ou não
querem saber, e seguem ‘determinando’, e assim, reduzindo, o profundo
conhecimento que é o Kung Fu e o próprio sistema WT (Wing Chun / Weng Chun
Kuen). Determinam ‘verdades’ a partir das suas óticas, não percebendo a
diversidade e riqueza que é estudar e integrar estas diversidades, e não
segmentá-las. Não tenho nada contra as linhagens, mas reconheço e conheço ‘modos’
que vão além de uma única linhagem, como é o nosso caso da AFWK. Ambos os
caminhos podem ser muito bons, desde que se estude/pratique com sinceridade e
conhecimento, desde que se busque os fundamentos essenciais destes
conhecimentos. O mais é ‘política’ (no sentido ampliado do conceito), ou ‘pré-conceito’.
E estão aí grandes mestres como os já citados acima para provar que, não é a
fonte única que faz desenvolver um bom Kung Fu, mas sim, a(s) fonte(s) profundas
e que vivem em movimento, com o a água. Outro dia eu tentava dialogar com outro
sifu, de outra escola e ‘modo’ de WT, e não tinha jeito, para ele a integração
de estilos diferentes num mesmo ‘modo’ ou escola/associação, é impossível. Não entrava
na sua cabeça que as coisas podem se encontrar na essência, sendo alguns
estilos filhados a uma mesma raiz ou essência. Dizia reduzidamente que, é fácil
inventar, defendendo um único caminho. Quer dizer então que, como
estudante/praticante e sifu, como escola ou associação que estuda, pesquisa e
também desenvolve, não podemos estudar com mais de um professor, em mais de uma
fonte, mais de um estilo e ‘modo’? O cara não entende que Wing Chun pode
dialogar com outras artes, outros estilos, e assim poder ser aprimorado,
adaptado, para além da sua representação, do estereótipo que, muitas vezes é
maior do que a realidade. Isso é reduzir e determinar. Particularmente, meu caminho
(nosso, AFWK) é outro.
"Mestre
é quem conduz seu aluno ou discípulo à si próprio, e não à ele ou seus
desígnios."
(inspirado
no documentário 'Avake', sobre Yogananda)
Parece que, quando uma
escola/associação tem mais de uma fonte (mais de um mestre, tradição, linhagem
ou ‘modo/estilo’ de onde bebe e, então desenvolve seu próprio ‘modo’), alguns
outros praticantes ou sifu’s julgam (mesmo sem saber/conhecer ou experimentar
este ‘modo’) negativamente esta ‘diferença’. Julgando a partir de questionamentos
tendenciosos e ideologicamente discursivos, acabam por tentar impor suas ‘verdades’,
camuflando assim suas faltas de discernimento e conhecimento (em palavras mais
diretas, suas ignorâncias) perante aquilo que lhes é diferente. É um problema
cultural amigos, que está além do universo Kung Fu, onde a diferença quase
sempre é tratada como inferior. Por algum medo ou autoconvencimento, estes
preferem fechar os olhos para o outro e manter suas posturas de autoridades
naquilo que fazem ou sabem. Mas o fato, a realidade, são bem outros. Exemplos
não faltam para comprovar isso. O ‘modo’ ou estilo Ip Man só é o que é, por
exemplo, graças aos conhecimentos variados que este mestre aprendeu com
diferentes professores e ‘modos’, e assim então pôde desenvolver o seu próprio
e famoso ‘modo’. Como eu já tratei em outro texto aqui, uma espécie de ‘sincretismo’
é responsável por isso. O próprio sistema WT surge disso (para além da provável
lenda ou tradição da ‘musa criadora’).
"PARA MANTER
O EQUILÍBRIO DAQUILO QUE TEM FORMA, TEMOS QUE BUSCAR NOS SUPRIR DO QUE NÃO TEM
FORMA " (GM Liu Pai Lin)
Enfim. Antes dos pré-julgamentos
ignóbeis, cheios de ideologia e que distorcem a realidade e história de um
conhecimento tão profundo e variado, é mais coerente e digno conhecer, estudar,
para daí sim perceber e poder ter uma maior noção ou entendimento do que sejam
estas diversidades dentro de um mesmo sistema, independente de suas integrações
com outros. Se existem escolas/associações que seguem uma única linhagem ou
tradição, existem também àquelas que estão além disso, e isso não significa que
uma seja melhor ou pior que a outra, apenas, que são caminhos diferentes. O que
vale é a sinceridade e o conhecimento. O mais é caminho, método, busca, ‘modo’.
Aparência, representação, discurso, não são essência. Então, busquemos a
essência, que é onde se encontra o mais profundo e flexível conhecimento: a
sabedoria!
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