Kung Fu não é um sistema ou estilo de 'arte marcial', mas sim, um apanhado de conhecimentos que desaguam num grande conhecimento que inclui vários sistemas e/ou estilos. Junto a 'marcialidade' existem princípios que norteiam este conhecimento (infelizmente não considerados, como deveriam pelo menos, por muitos).
No contexto histórico, o Kung Fu surge na China antiga como instrumento de 'auto-defesa', a partir de mestres, no seu âmbito familiar e/ou comunitário, e em templos, em que desenvolvem técnicas integradas com certos princípios. Logo ele foi aplicado ao contexto da guerra, no treinamento militar dos exércitos imperiais, assim como, também usado nos grupos rebeldes ao domínio imperial.
Nisso, grande parte (ou quase todo) o Kung Fu neste contexto (antigo), se utilizou, além do fator físico-corporal e das estratégias (a partir de estudos, conhecimentos e da mentalidade), de instrumentos ou ferramentas, inicialmente de trabalho, que se tornaram armas. Portanto, a história do Kung Fu (para além do fator esportivo e ou moderno urbano das escolas ou academias), sempre foi marcada pelo uso de instrumentos (armas), a exemplo do exército e da guerra.
Dado este contexto, atualmente alguns praticantes e/ou entusiastas olham para o Kung Fu como se ele fosse simplesmente uma 'modalidade esportiva' de 'combate regrado de mãos limpas', ignorando um contexto maior, reduzindo assim este conhecimento. É fato que o Kung Fu pode (e deve) ser usado para diferentes 'fins' ou situações. Porém, ao invés de ficarmos arrotando 'verdades absolutas' sobre este conhecimento, seria mais prudente e inteligente perceber que, nem tudo no Kung Fu é luta, sob tudo desarmada.
Compreender os vários aspectos que envolvem este conhecimento, esta arte milenar e tão atual, é trabalhar a amplitude da visão e da sensibilidade. Nisso, é possível rever alguns conceitos e aplicá-los de formas distintas, onde 'luta' pode ser diferente de 'auto-defesa', que, por sua vez, é diferente de 'disputa', que é diferente de 'guerra', etc., e que, no tempo físico da realidade material, 'mãos limpas/livres' e 'mãos armadas', implicam em situações diferentes, assim como 'jogar dentro de regras específicas' com cuidados específicos, é bem diferente de 'atuar na realidade caótica da vida'. Portanto, temos aí, dois conceitos ou concepções de 'luta', e talvez, numa delas, seja mais apropriado falar em 'auto-defesa'.
Sim, o uso técnico e bem habilitado do corpo, pode ser tido como uma arma. Porém, mesmo assim, é diferente de um outro corpo também tecnicamente habilitado, só que, portando uma arma que funciona como uma extensão deste próprio corpo. Então, diferente do que alguns julgam, estilos, sistemas ou modos diferentes de Kung Fu exigem ou são bem aplicados ou efetivos em diferentes realidades e/ou contextos. Nisso, toda comparação não passa de subjetividade. Por isso, é fundamental conhecermos a arte (estilo, sistema ou modo) que estudamos/praticamos, para que não hajam equívocos conceituais, de concepções, percepções e, portanto, de aplicações destes conhecimentos na vida.
No vídeo que segue, um 'jogo' (ou esporte) que demonstra e pratica o uso de armas no Kung Fu. Com sua habilidade e de 'mãos limpas', você acha que lutaria ou se defenderia de igual para igual (com uso das suas técnicas e golpes) contra um praticante destes armado? Então, de 'mãos limpas', dentro deste contexto, qual 'luta', quais 'armas' (estratégias, conhecimentos, inteligência marcial - quais fundamentos filosóficos e práticos) seriam mais adequadas ou propícias para manter a integridade física (vida)?
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