segunda-feira, 30 de abril de 2018

Kung Fu e Chi Kung: reflexos na vida


Como transformar problemas ou dificuldades em potência através do Kung Fu?

Nasci com problemas de saúde. Bronquite asmática uma ‘alergia climática’. A segunda me acompanha até hoje. Da bronquite fui curado por uma benzedeira (‘cura quântica’, através da energia e ‘espiritualidade’, acompanhada por algumas práticas ou cuidados e xarope caseiro com plantas, conhecimento nativo, indígena-caboclo – algo muito semelhante e que tem a mesma essência da medicina taoista), além do trabalho minucioso da minha mãe em me disciplinar para o tratamento que durou alguns anos. Foi bem nesta época (da cura), em meados dos anos 90, com em torno de 12 anos de idade, que comecei meu caminho no Kung Fu e Chi Kung. De ‘herança’ deste nascimento e crescimento frágil, fiquei com problemas de imunidade, sempre balançando, ou seja, instável. Por isso, para alguém como eu, certos cuidados são necessários. Mas não torno isso paranoia. Vivo! E sou dos que vivem com certa intensidade. Tendo consciência desta minha condição, e este é o primeiro passo para lidar com o ‘problema’. E é no Kung Fu e Chi Kung (além das artes e filosofia), que tenho suporte e energias suficientes para buscar ou ter meu equilíbrio existencial. Meu amigo bigodudo, o grande filósofo alemão F.W. Nietzsche, sugeriu que ‘a dificuldade seja transformada em potência’, e eu como bom ‘discípulo’, segui seu apontamento. E é isso que o Kung Fu me dá, potência! Não aquela potência relacionada a força física, a masculinidade, tão comum no espírito de quem ainda não superou a tradição patriarcal que ainda predomina na sociedade, mas a potência em ter energia boa para seguir e manter-se equilibrado no ‘caminho’ (leia-se Tao).
Já que o tema aqui é relacionar a prática do Kung Fu (inclui-se aqui o Chi Kung e o Tai Chi) com a vida, tenho uma outra ‘revelação’ para fazer. Sofro (ou sofria?) de um tipo de ‘bipolaridade’. Num passado não tão distante, antes de meu ‘retorno’ cotidiano ao Kung Fu (praticava aleatoriamente durante anos), meu estado de espírito (humor ou irritação) mudavam da água para o vinho. Me baixava algo que não controlava. Questões socioculturais me afligiam com muita facilidade. Era fácil explodir. Mas, como nunca fui violento, eram as palavras ou meu silencio que batia nos outros. Sempre cuidei para isso não acontecer, tanto que, a grande maioria dos meus convivas não sabem (ou sabiam) disso. Mas acredito que meu grau de ‘bipolaridade’ nunca foi dos mais severos. Às vezes dava alguma porrada em parede. Arrebentava a parede ou a mão. A música e a poesia me salvaram por várias vezes (e salvaram outros). Mas, foi com a prática interna (Chi Kung) e com o Kung Fu que ‘me curei’. Ou pelo menos, tenho controle total (ou quase isso) deste meu ‘karma’. Faz pelo menos 8 anos que não tive mais ‘surtos’. A maioria destes ‘surtos’ eram traduzidos em silêncio e falta de alegria, o que também me deprimia muito. Um grau de depressão também carregava junto a este problema. E isso, esta sensação de desistir do mundo, já não me afeta mais. Tenho alegria em estar no ‘caminho’ – em viver. Para encerrar as ‘revelações’ (risos), nem tudo é problema. Quer dizer, depende. Tenho um talento nato. Sou sensitivo (além do olfato e paladar apuradíssimos). E esta super-sensibilidade me traz coisas muito boas. Porém, em muitos casos também, sofro, pois, sinto as coisas alheias e tendo a compartilha-las a modo de diminuir a dor ou problema dos outros. Mas acho que isso não é consciente. A parte boa, é que raramente me engano com alguém ou algo ideológico e psicológico. Já me disseram, mais de uma vez, e mais de uma pessoa, que eu poderia ser um bom psicólogo. Mas não investi nisso (se bem que já tive minhas leituras de Lacan e Freud, entre outros - risos). E nisso, nesta empatia potencializada, também tenho o Kung Fu como um ‘regulador’, pois até nisso preciso de certo ‘equilíbrio’. Muitas vezes, isso significa ‘ignorar’ este ‘talento’ ou ‘problema’ (depende do caso, é um ou é outro). Em suma, hoje, vivo razoavelmente bem com estas questões que me tornam um tanto intenso. Por isso sou crítico e busco, preciso estar sempre ‘ativo’ em minha consciência. Porém, o ‘mergulho no vazio’, o ‘deixar ir/passar’, o relaxamento externo e derretimento interno, proporcionados pela prática cotidiana do ‘Chi Kung Fu’, me são necessários, fundamentais para certa ‘saúde existencial’.
Usei meu próprio caso para mostrar o quão o Kung Fu (o que o grande mestre brasileiro Leo Imamura, do clã Moy Yat, um dos grandes do Wing Chun na América Latina, chama de ‘vida Kung Fu’) é importante. Mais que uma ‘luta’ ou um estereótipo (imagem), o Kung Fu é um ‘caminho de vida’, onde certo ‘equilíbrio’ é seu fundamento principal. Das suas habilidades proporcionadas, o ‘combate’ de um ser contra outro, é apenas um aspecto, e talvez, o menos importante nos dias de hoje. Era mais necessário no período imperial da China, onde cada um tinha que se virar como podia para sobreviver. Hoje, a realidade é outra, todos sabem (ao menos que a paranoia assuma o lugar da consciência plena), ‘o combate é de si contra seus próprios demônios’. Não desconciderando o quesito técnica de combate (ou ‘luta’), mas, o Kung Fu é muito mais que isso. Os trâmites da minha vida pessoal descritos acima, são um exemplo disso. Devo muito ao acesso que tive a este profundo e grande conhecimento. Aos meus vários professores/as. Devo muito, além das boas pessoas que me cercam, das artes e da filosofia, ao Kung Fu e Chi Kung, e ao taoismo filosófico (o qual me dedico bastante atualmente).

Viver o presente para além do bem e do mal

Devido a uma forte conjuntivite, de hora em hora, sob orientação médica, tive que fazer um emplasto nos olhos com gase e água gelada, ficando imóvel e em silêncio por 20 minutos. O que poderia ter sido ruim ou chato, me proporcionou meditação ('mergulho no vazio' - leia-se taoismo) a cada uma hora, e foi o que fiz. No segundo dia (até sarar), mudou, e o ‘ritual’ do ‘emplasto meditativo’ passou a ser de 4 em 4 horas. Foram 6 dias de tratamento e ‘mergulho no vazio’ neste tempo, praticando respiração, derretimento interno -relaxamento externo, auto-contenção/retidão, atenção plena, deixar ir/passar (conceitos taoistas e budistas), além do trabalho com energia (Chi Kung). Aproveitei o momento de dificuldade para praticar e aprimorar meu estado espiritual-energético e existencial. Além disso, também aproveitei o ‘molho’ (ficar em casa) - sou afortunado, tenho um quintal com muita vida (plantas, árvores) em casa - também investi na prática do Chi Kung, Tai Chi e Wing Tjun, 80% ‘internos’, no mínimo, com variações à prática ‘externa’. Não que isso não seja comum na minha rotina, mas nesta quantia, nem sempre é possível. Dias de práticas em algo muito concentrado, o que me rendeu certo avanço dentro do Kung Fu e do Chi Kung.
Em suma, tudo o que relato acima, assumo, não nego, admito, tenho consciência, pois isso faz parte do meu ser, dos meus dias, da minha história, coisas não ignoradas ou tornadas peso, mas sim, aprendizado, conhecimento. O primeiro passo para uma superação é admitir o problema em si próprio e buscar um ‘caminho’, rumo ao equilíbrio de ser-estar e viver. E foi isso de mais valoroso que aprendi com o Kung Fu e com a filosofia taoista.
Espero com este texto, contribuir, de uma forma ou de outra para um melhor ententimento do que seja o Kung Fu, dos benefícios e habilidades que o mesmo pode proporcionar, assim como, poder ajudar leitores/as que venham a buscar o ‘caminho do equilíbrio’ como eu fiz ou faço. Por isso agradeço aos amigos e familiares que me cercam, aos praticantes, sifu’s e mestres com quem mantenho boas relações, assim como meus alunos e irmãos da AFWK. Pessoas importantes na constituição deste ser que vos fala. Dividimos e compartilhamos nosso tempos. Enfim... Não há fim. Obrigado!

"Fluindo Mente, Corpo e Energia = Equilíbrio!"



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