Conheça e compreenda mais, para não distorcer e praticar o
pré-conceito
Não é a primeira, e acredito que
nem será a última vez. Volta e meia alguém aparece questionando nosso Kung Fu,
nosso ‘modo’ de Wing Tjun, por talvez ser estranho ou diferente aos seus olhos,
sem ao menos buscar conhecer nossa associação, currículo ou ‘modo’. Agem a
partir de certos preconceitos, certos vícios mesquinhos de competição ou ego que contaminam a
internet, a cultura, a sociedade. Geralmente são pessoas de orientação
conservadora ou intolerantes com o diferente. Certa concepção de ‘purismo’
inculcada em suas cabeças fazem com que julguem negativamente e antecipadamente
(pré-conceito) aquilo que não conhecem, que nunca testaram, e antes mesmo de
compreender, sentenciam. Isso demonstra certa imaturidade ou desequilíbrio,
coisa que o Kung Fu ou as artes marciais como um todo deveriam dar conta. Nos
discursos de algumas academias por aí, equilíbrio, respeito, honra, etc., são palavras
comuns, porém, na prática, muitas vezes, não é bem assim que acontece,
infelizmente.
Em todas as nossas publicações,
seja aqui no blog, na pág. do facebook, ou em qualquer outra mídia, sempre
deixamos claro que nossa associação ou escola, nosso ‘modo’, é fruto de um
sincretismo, ou seja, de uma fusão de conhecimentos diferentes, porém, que
dialogam entre si e se encontram na ‘essência’. Alguns acreditam que muita
referência confunde. Sim, pode confundir, mas também pode aprimorar, ampliar,
aprofundar. Tudo vai depender de como esta fusão acontece e como se trabalham
os elementos de cada estilo dentro de um ‘modo’ ou escola. Por isso, a questão
é relativa, e por isso, deve-se primar pela essência da arte, do conhecimento,
e não pelas aparências, estereótipos ou discursos (que em grande parte são
publicitários). É ali que está a plena condição para que uma prática seja
consistente.
Atitudes mesquinhas como a de um
praticante brasileiro, dias atrás, que, não conhecendo nosso ‘modo’, nossa
associação, e por mais declarado que esteja nas nossas publicações a questão
das nossas raízes, bases, influências, inspirações ou referências, o sujeito fez
contato com um praticante estrangeiro de um dos estilos de que temos base e
influência (pois, estudei com um professor que, por sua vez, estudou o estilo
em questão, portanto, aprendi elementos deste estilo, que fazem parte do nosso
currículo) dizendo que usamos a imagem do mestre daquela escola como se fosse o
nosso mestre, deixando a entender que somos filiados ou representantes daquela
linhagem ou escola no Brasil, o que não é verdade.
A AFWK é uma associação ‘independente’,
que não possui vínculos diretos com nenhuma outra associação, escola ou linhagem.
As imagens de alguns mestres que vinculamos a nossa escola foram feitas em
momentos de homenagens, nas cerimônias do chá e momentos de estudos, em honra
as suas memórias e conhecimentos deixados para o mundo do Kung Fu, já que são
imagens públicas. Outras imagens são de mestres de que possuímos referências ou
bases, daqueles que, direta ou indiretamente, tive contato e adquiri ou absorvi
certos conhecimentos (teóricos e práticos). E isso tudo também está declarado
nas nossas publicações. Reiterando:
Alguns mestres que já foram
citados ‘como inspirações e influências’ da AFWK nos eventos de estudos e
cerimoniais do chá – os quais não possuímos vínculos
diretos: Leung Jan, Tang Suen, Wang Xiang Zhai, Ngo Si Quy (entre outros).
Mestres que são citados ‘como
bases e referências’ da AFWK – os quais, de alguma forma recebemos ou herdamos
alguns conhecimentos (sejam eles práticos ou teóricos), mas não somos filiados ou representamos suas linhagens:
Yuen Chai Wan, Kwee King Yang, Ip Man (‘modos’ Wong Shun Leung e Leung Ting),
Liu Pai Lin, Wu Jyh Cherng e Sergio Iadarola.
Nosso ‘modo’ (organizado a partir
de currículo próprio), possui conteúdos provindos destes mestres, gostem alguns
intrigueiros ou não. Não temos uma linha do tempo exata para esboçar aqui, mas o
professor da AFWK Herman Silvani, nos anos 90, estudou com um praticante que
foi seu professor e que, por sua vez, estudara Kung Fu no sudeste asiático, no Vietnam,
Indonésia e passagens por Taiwan, de onde vieram os elementos dos estilos Yuen
Chai Wan e Kwee King Yang, além das artes internas do Chi Kung e Tai Chi,
estilos Bai He (Garça Branca) e Chu Kar. Estudou com outro professor o estilo
Ip Man a partir dos ‘modos’ Wong Shun Leung e Leung Ting (Siu Nin Tao, Chum Kiu
e elementos da Biu Tze, Mook Yan Chong e Bart Chan Dao). Mais recentemente Participou
de um seminário da IWKA, onde teve orientações diretas com o sifu Sergio Iadarola,
seguindo estudando com o então representante da IWKA no Brasil por algumas
vezes. Antes disso, também teve aulas com um professor de Wing Chun Ip Man e
Shaolin, na sua retomada oficial do estudo do Kung Fu nos anos 2000, quando
também estudou Chi Kung com uma professora. Atualmente sifu Herman é estudante/praticante
de Tai Chi Chuan estilo Pai Lin com o sifu, acupunturista e psicólogo Carlos Artur
Schacker (que foi aluno de um discípulo direto do GM Liu Pai Lin) no Espaço
Vida, local onde, atualmente, leciona Chi Kung e Wing Tjun.
Em suma, o Kung Fu é um campo
amplo de conhecimentos e possibilidades, limitado por alguns que, prepotentes e
mesquinhos, o querem como um território cercado. Geralmente estes vivem de
discursos e estereótipos. Talvez se se preocupassem mais com aquilo que sabem
(ou acham que sabem) e fazem, ao invés de ficarem apontando o dedo e
esparramando seus desequilíbrios por aí, o Kung Fu no Brasil estaria em
melhores condições.
Todo nosso respeito às linhagens,
mestres e seus conhecimentos, graças a eles é que hoje podemos praticar e viver
o Kung Fu. Ser fusão, sincretismo, não significa não ter bases ou raízes, muito
menos desrespeitar a história e o conhecimento – talvez seja o oposto disso, sendo
que, o próprio Wing Chun é fruto de um sincretismo, assim como são grande parte
das escolas por aí. Alguns admitem, compreendem esta complexidade. Outros,
ignoram, pela não compreensão ou pela arrogância. Enfim, seguimos conforme
nossa necessidade, fluindo no Caminho...
"Não
sejas um personificador da fama; não sejas um silo de esquemas; (...) ; não
sejas o proprietário da sabedoria. Incorpora o mais plenamente que possas o que
não tem fim e perambula por onde não há sendas. Aferra-te a tudo o que
recebeste do Céu, mas não creias que possuis alguma coisa. Sê vazio, eis
tudo." (Chuang Tzu)
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